Esse é Pedrinho, meu filho. O texto a baixo foi escrito pela minha irmã.
Leiam, porque é delicioso.

Pedrinho e o Trem
* Angela Rocha
Pedrinho é um menino de cidade grande. Que vê o mundo pela janela do terceiro andar. Isso se pudesse alcançá-la do alto dos seus noventa centímetros. Pedrinho ainda não conhece muito do mundo, não sabe de brincar na rua, nem de grama em outro lugar que não seja o parque, não conhece muitos animais, exceto o “latido” dos cachorros da vizinhança. Que o faz arregalar os olhos e lembrar: “Elvis!”, o cachorro do vizinho. Dois anos é, com certeza, uma idade mágica. É onde se começa a descobrir o mundo, a magia das palavras, ainda sem alguns fonemas complicados e, realmente a “andar” com as próprias pernas, mesmo que esses passos sejam ainda galopantes e apressados, ora preguiçosos pedindo colo e, sobretudo, descuidados.
Pois esse menino, ao visitar a tia no interior, conheceu o Trem. Sim, o trem. Não o trem da cidade grande, que anda sobre trilhos elétricos, por debaixo da terra ou escondido entre as muitas construções da metrópole. Conheceu o trem que passa na cidade pequena. Que, logo que surge na curva, vêm apitando e gritando loucamente: “Olha o trem, sai da frente!”. O trem que solta longos rolos de fumaça e que pode ser visto passando nos fundos da casa em longas composições. O trem que pode ser associado à paisagem, às grandes plantações e pequenas estações. O trem que se esconde no meio das árvores e que passa encima de grandes pontilhões.
Esse trem maravilhou o mundo de Pedrinho. Logo que escutou o apito barulhento pela primeira vez, arregalou os olhinhos e olhou para a mãe, como quem diz: “Mãeeeee, o que é isso?” E todos correm a mostrar a ele o que é o trem. E Pedrinho acompanha estupefato. O trem apita e vai passando, passando, passando... E Pedrinho não quer parar de olhar o “Tem”. Ah, e para a sorte de Pedrinho o trem faz uma longa curva e pode-se vê-lo como se passasse duas vezes! E nos dias de férias na casa da tia, a passagem do trem torna-se um ritual: às dez da manhã, ao meio-dia, às quatro da tarde, ás onze da noite e... ás cinco da manhã! Claro que nesse horário o sono vence Pedrinho. Não dá para acompanhar o “Tem”. Mas cada vez que o barulho do apito soa lá longe, lá vai o povo correndo agarrar o Pedrinho para olhar da sacada (ainda bem que tem a sacada!). E ele exige! Ordena e grita. Quer ve r o “Tem”. E quando o barulho vai ficando mais alto, lá está Pedrinho, batendo os pezinhos, ansioso, gritando: “O tem, o tem, o tem...”. Aí da gente que não o eleva para ver o trem.
E as perguntas se multiplicam. Para onde vai o trem? Vai pra casa dele? Onde ele mora? E quando ele parece demorar a passar: Cadê o “tem”? E o trem acaba por ter mãe e pai, irmãos, casa, enfim... Tudo aquilo que a imaginação dos pais consegue acompanhar.
Aos donos da casa, a quem o trem incomodava por demais, gritando feito louco pelo menos cinco vezes por dia, resta a saudade. Saudade dos dias de olhinhos arregalados, gritinhos animados, pulinhos de antecipação e alegria desmedida. Pedrinho conseguiu, naqueles dias, reconciliá-los com o trem. Agora, quando ele passa, para-se o que se estiver fazendo, apenas para escutar o barulho, pensar no menino e abrir um sorriso: “É o Tem!”.
*Angela Rocha
Catequista Amadora
** Pedrinho é meu sobrinho e mora em Curitiba. Passou quase uma semana em minha casa aqui em Bandeirantes, logo que me mudei. E acreditem ou não, agora até eu, espero a passagem do trem. E estou como Pedrinho: o das cinco da manhã, nem escuto mais!

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